quarta-feira, 31 de outubro de 2012

29 DE JANEIRO DE 1983

 
«A emoção intensa não cabe na palavra: tem que baixar ao grito ou subir ao canto»
 
Álvaro de Campos
 
 

 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

29 DE NOVEMBRO DE 2007

Entre 29 de novembro de 2007 e 9 de fevereiro de 2008, decorreu na Biblioteca Nacional de Portugal (na Sala de Referência) uma mostra documental, com o objetivo de dar a conhecer o espólio de Augusto Abelaira, que foi doado à BNP em 2004 pela filha do escritor, Ana Sílvia Abelaira.
A mostra incluiu fotografias, documentos e objetos pessoais, edições antigas dos seus livros, cartas, versões autógrafas e datiloscritas de vários livros (alguns inéditos), notícias e entrevistas em jornais.
A BNP publicou na altura um livro muito interessante com o catálogo da exposição:




Tive o enorme prazer de participar, no dia 29 de Novembro de 2007, na visita guiada (de forma apaixonada, por Manuela Vasconcelos) e na sessão (na Livraria BNP) que contou com intervenções de Eduarda Dionísio e Jorge Silva Melo.
Termino com a ligação para o texto que Eduarda Dionísio leu nessa tarde inolvidável.

sábado, 29 de setembro de 2012

MÁRIO DE CARVALHO NA INTERNET


Boas notícias: o escritor Mário de Carvalho tem um sítio oficial na internet e também está no facebook.
A não perder.




http://mariodecarvalho.com/

http://www.facebook.com/#!/mariodecarvalho.escritorpagina

http://www.facebook.com/pages/M%C3%A1rio-de-Carvalho/142842792489604

«ESPERANÇA GRAMATICAL»


Uma excelente crónica, escrita por Ricardo Araújo Pereira e publicada na revista VISÃO de 31 de maio de 2012.
Acreditemos no poder das palavras!





Esperança gramatical



E quando o leitor pensava que já tinha ouvido tudo acerca da crise, de repente fica a saber que, gramaticalmente, é muito difícil que Portugal vá à falência. E, enquanto for gramaticalmente impossível, eu acredito. Justifico esta ideia com a seguinte teoria fascinante: normalmente, considera-se que o verbo falir é defectivo. Significa isto que lhe faltam algumas pessoas, designadamente a primeira, a segunda e a terceira do singular, e a terceira do plural do presente do indicativo, e todas as do presente do conjuntivo. Não se diz «eu falo», «tu fales», nem «ele fale». Não se diz «eles falem». Todos os modos e tempos verbais do verbo falir se admitem, com excepção de quatro pessoas do presente do indicativo e todo o presente do conjuntivo. Em que medida é que isto são boas notícias? O facto de o verbo falir ser defectivo faz com que, no presente, nenhum português possa falir. Não é possível falir, presentemente, em Portugal. «Eu falo» é uma declaração ilegítima. Podemos aventar a hipótese de vir a falir, porque «eu falirei» é uma forma aceitável do verbo falir. E quem já tiver falido não tem salvação, porque também é perfeitamente legítimo afirmar: «eu fali». Mas ninguém pode dizer que, neste momento, «fale».
Acaba por ser justo que o verbo falir registe estas falências na conjugação. Justo e útil, sobretudo em tempos de crise. Basta que os portugueses vivam no presente - que, além do mais, é dos melhores tempos para se viver - para que não «falam» (outra conjugação impossível). Não deixa de ser misterioso que a língua portuguesa permita que, no passado, se possa ter falido, e até que se possa vir a falir, no futuro, ao mesmo tempo que inviabiliza que se «fala», no presente.
Se eu nunca «falo», como posso ter falido? Se ninguém «fale», porquê antever que alguém falirá? Talvez a explicação esteja nos negócios de import/export. Nas outras línguas, é possível falir no presente, pelo que os portugueses que têm negócios com estrangeiros podem ver-se na iminência de falir. Mas basta que os portugueses não falem (do verbo falar, não do verbo falir) acerca de negócios com estrangeiros para que não «falam» (do verbo falir, não do verbo falar). Eu tenho esse cuidado, e por isso não falo (do verbo falir e do verbo falar).
Bem sei que o prof. Rodrigo Sá Nogueira, assim como outros linguistas, se opõe a que o verbo falir seja considerado defectivo. Mas essa é uma posição que tem de se considerar antipatriótica. É altura de a gramática se submeter à economia. Tudo o resto já se submeteu. 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

CAPACIDADES

Só quem se propõe fazer o que não é capaz consegue realmente saber do que é capaz.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

GAROTA DE IPANEMA

Em 2 de agosto completaram-se 50 anos sobre a primeira apresentação da "Garota de Ipanema", composta por Tom Jobim (música) e Vinicius de Moraes (poesia), que nas imagens seguintes a interpretam.



No seu trigésimo aniversário, Tom Jobim e João Gilberto também a recordaram, em homenagem, igualmente, a Vinicius (na altura já falecido).




Caetano Veloso (que em 7 de agosto fez 70 anos) aqui interpretando a canção com João Gilberto.



E, "the last but not the least", Frank Sinatra e novamente Tom Jobim.





É possível ordenar cronologicamente estas quatro gravações através das marcas do tempo nos rostos.

Mas, independentemente disso, é possível adivinhar quais as gravações mais antigas: são aquelas em que se canta e fuma e bebe (marcas dos tempos).

terça-feira, 17 de julho de 2012

TEJO



«O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia»
Porque o Tejo é o rio que corre pela minha aldeia.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

sábado, 30 de junho de 2012

NO CAFÉ

A: Qual o teu livro preferido?
B: "Memórias de Um Átomo".

quarta-feira, 20 de junho de 2012

NA PISCINA


Na piscina os utentes quando iam entregar e receber os cabides com a roupa deparavam-se com dois letreiros, um de cada lado, com os seguintes dizeres: "receção de cabides" e "entrega de cabides".

E a confusão era todos os dias enorme.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

PLÁGIO

Ser original é esconder bem as suas fontes (até de si próprio).

quarta-feira, 30 de maio de 2012

PORTUGAL


Três excertos de «Os Maias»:

«Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá...O empréstimo faz-se ou não se faz?
E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...
O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar «absolutamente». Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministros era esta - «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar...
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.»
Pág. 169  

«Tenho tido saudades das nossas belas discussões em Sintra!- disse ele, dando ao Ega a palmada carinhosa nas costas que outrora pertencia ao Maia. - Tivemo-las de primeira ordem!
Eram realmente «pegas tremendas» no pátio do Vítor sobre literatura, sobre religião, sobre moral...
(...)
O conde sorriu.
(...)
- Em todo o caso, tivemo-las brilhantes! - concluiu ele, olhando o relógio. - E, eu confesso, uma discussão elevada sobre religião, sobre metafísica, encanta-me... Se a política me deixasse vagares, dedicava-me à filosofia... Nasci para isso, para aprofundar problemas.»
Pág. 553

 
«Mas Ega entendia que o Sr. Afonso da Maia devia descer à arena, lançar também a palavra do seu saber e da sua experiência. Então o velho riu. O quê! Compor prosa, ele, que hesitava para traçar uma carta ao feitor? De resto, o que teria a dizer ao seu país, como fruto da sua experiência, reduzia-se pobremente a três conselhos, em três frases - aos políticos: «menos liberalismo e mais carácter»; aos homens de letras: «menos eloquência e mais ideia»; aos cidadãos em geral: «menos progresso e mais moral».
Pág. 574

 
E como Carlos lembrava a política, ocupação dos inúteis, Ega trovejou. A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como um filoxera! Os políticos hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos cordéis.»
Pág. 700

terça-feira, 1 de maio de 2012

NO CAFÉ

A: O ótimo é inimigo do bom.
B: E não terá razões para isso?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A IMPORTÂNCIA DO PASSADO

O passado também permite, feliz ou infelizmente, prever o futuro.
Por isso, faz sentido:
  • Verificar em que anos, neste século, os trabalhadores da Administração Pública portuguesa viram o seu rendimento subir acima do valor da inflação;
  • Tentar perceber o porquê desse facto.

sábado, 31 de março de 2012

INCIPITS

Um desafio: três (ou quatro) incipits que tenham vindo à tona da memória.
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«11 de Dezembro
Olho para o papel branco (afinal um tudo-nada pardacento) sem a angústia de falava Gauguin (ou era Von Gogh?) ao ver-se em frente da tela, mas com apreensão, apesar de tudo. Que vou eu escrever - eu, a quem nada neste mundo obriga a escrever? Eu, antecipadamente sabedor da inutilidade das linhas que neste momento ainda não redigi, dentro de alguns minutos (de alguns anos) finalmente redigidas?
Não sei: folheio ao acaso a página cento e quinze do meu caderno, ainda branca, ainda parda, e pergunto-me: daqui a dois, a três, a quatro meses, quando a alcançar - se a alcançar -, terei escrito uns milhares de palavras. Que palavras?
E fico perturbado, muito mais perturbado por essa página do que por esta, já em parte azulada e vazia de surpresas. Como saber se nela, hoje e durante um ou dois meses ainda branca, branca e situada no futuro, embora um futuro espacial, eu não contarei (não terei contado) coisas de cortar o coração? Sobre mim. Ou sobre o mundo, uma guerra, a vitória completa do fascismo, por exemplo.»
BOLOR, Augusto Abelaira, 1968
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«Teve uma infância estranha», disse Austin. «Em última análise, todas as infâncias o são», disse Mister DeLuxe. «Molero diz», disse Austin, «que a infância do rapaz foi particularmente estranha, condicionada por questões de ambiente que fizeram dele, simultaneamente, actor e espectador do seu próprio crescimento, lá dentro e um pouco solto, preso ao que o rodeava e desviado, como se um elástico o afastasse do corpo que transportava e, muitas vezes, o projectasse brutalmente contra a realidade desse mesmo corpo, e havia então esse cachoar violento do que era e a espuma do que poderia ser, a asa tenra batendo à chuva.»
O QUE DIZ MOLERO, Dinis Machado, 1977
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«D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fose, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça. Além disso, quem se extenua a implorar ao céu um filho não é o rei, mas a rainha, e também por duas razões. A primeira razão é que um rei, e ainda mais se de Portugal for, não pede o que unicamente está em seu poder dar, a segunda razão porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há-se ser naturalmente suplicante, tanto em novenas organizadas como em orações ocasionais. Mas nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica ou impedimeno fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das preces, se sacrifica a uma imobilidade total depois de retirar-se de si e da cama o esposo, para que se não perturbem em seu gerativo acomodamento os líquidos comuns, escassos os seus por falta de estímulo e tempo, e cristianíssima retenção moral, pródigos os do soberano, como se espera de um homem que ainda não fez vinte e dois anos, nem isto nem aquilo fizeram inchar até hoje a barriga de D. Maria Ana. Mas Deus é grande.»
MEMORIAL DO CONVENTO, José Saramago, 1982
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«Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido. Debaixo de sombras irisadas, leio e releio os meus livros, passeio, rememoro, devaneio, pasmo, bocejo, dormito, deixo-me envelhecer. Não consigo comprazer-me desta mediocridade dourada, pese o convite e o consolo do poeta que a acolheu. Também a mim, como ao Orador, amarga o ócio, quando o negócio foi proibido. Os dias arrastam-se, Marco Aurélio viveu, Cómodo impera, passei o que passei, peno longe, como ser feliz?»
UM DEUS PASSEANDO PELA BRISA DA TARDE, Mário de Carvalho, 1994

sexta-feira, 23 de março de 2012

CRÉDULOS E INCRÉDULOS

Uma visão lúcida, na crónica de Rui Tavares, no PÚBLICO do passado dia 8 de Fevereiro. Só a educação e a cultura nos podem salvar.
«A linguagem vazia dos governantes (...) acabou criando uma sociedade dividida entre crédulos de um lado e incrédulos do outro.
Nessa sociedade as reações são sempre as mesmas independentemente dos factos. Seja como for, o crédulo acredita em tudo o que lhe dizem, o incrédulo não acredita em nada. (...) Ambos podem ser, portanto, perigosos à sua maneira.
O crédulo acha sempre que os governantes são, por definição, pessoas responsáveis. A cada "cimeira histórica para salvar o euro" não consegue conceber que os governantes tenham sido ultrapassados pelos acontecimentos ou limitados pelos seus preconceitos, e inventa desculpas para se ter falhado o alvo (...).
O incrédulo acredita que os governantes não passam de meros fantoches do "sistema". Há versões anti-capitalistas, mas também pro-capitalistas, destes incrédulos: para uns o mercado tem todo o poder, para os outros o mercado tem toda a razão.
Tal como o crédulo encontra desculpas para a sua passividade porque pensa que os responsáveis vão acabar por fazer aquilo que é certo, o incrédulo não toma responsabilidade por absolutamente nada do que se possa fazer: ele viu tudo, ele já sabia que nada era para levar a sério, ele não deseja envolver-se em nada.
Como parece evidente, tanto o crédulo como o incrédulo se enganam a si mesmos, e aos outros: um finge acreditar para não ter de agir, outro finge não acreditar para não ter de agir.
Uma sociedade perfeitamente dividida entre crédulos e incrédulos é uma sociedade perigosa. Nela, os políticos sem escrúpulos entendem que podem dizer tudo o que quiserem, porque os crédulos são crédulos e acreditam em tudo o que se lhes diga e os incrédulos são incrédulos e de qualquer forma nunca acreditam em nada. Passa então a ser possível, para um político sem escrúpulos, dizer que quer a paz mas procurar a guerra - foi o que sucedeu na Europa dos anos 30.
Só uma sociedade inteira, com uma cultura cívica, pode ser antídoto para os políticos sem escrúpulos; não são os políticos com escrúpulos que conseguem vencer os políticos sem escrúpulos. Um escrupuloso tem sempre menos armas no arsenal do que um inescrepuloso; encontra-se limitado pelos seus escrúpulos e, se decidisse deixá-los de lado, passaria a ser igual ao outro - que assim ganharia duas vezes.
Uma sociedade dividida entre crédulos de um lado e incrédulos do outro não pode salvar-se. Essa seria uma sociedade em que uns achariam que não é preciso fazer nada e outros achariam que não há nada que se possa fazer.
Para nos salvarmos, temos de ser crédulos e incrédulos ao mesmo tempo.»

quinta-feira, 1 de março de 2012

LIVRARIA PORTUGAL

Nas mensagens de 29 de Outubro de 2009 e 31 de Março de 2011 falei na Livraria Portugal.
Volto a falar, infelizmente: fechou hoje.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

PARIS, TEXAS


A beleza da música de Ry Cooder na abertura de "Paris, Texas" de Wim Wenders.
Há 28 anos!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

NO CAFÉ

B:
A vida é (também) uma lição. Aprendi há pouco tempo duas máximas que, a par de outras, procuro norteiem a minha vida.
A:
Quais?
B:
A primeira é aceitar tudo o que não esteja ao meu alcance evitar ou mudar. Aceitar, não me revoltar, não ficar frustrado. Aceitar não significa não sofrer. Perante uma morte, eu aceito e sofro. Mas sofro não por querer que fosse diferente mas por não poder ser diferente.
A:
A não menor dificuldade será determinar o que está ou não ao teu alcance. E a segunda máxima?
B:
Last but not the least, é... agora não consigo lembrar-me. Deixa-me pensar... sabes, ocorre-me muitas vezes esquecer-me do que ia dizer. É extraordinário: como é possível dizer que descobri duas novas máximas importantíssimas para a minha vida e depois esquecer-me! Eu tenho aqui escrito no telemóvel, mas quero recordar-me. Anoto sempre no telemóvel ou num bloco aquilo que antecipo vir a querer recordar-me. A segunda máxima é (escrevi no telemóvel): «não querer que gostem de mim». Isto é: gosto que gostem de mim, mas não devo fazer nada motivado por esse desejo. Fiz algumas asneiras na vida por isso.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ENTROPIA E INÉRCIA

Duas grandes tendências.