quarta-feira, 30 de maio de 2012

PORTUGAL


Três excertos de «Os Maias»:

«Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá...O empréstimo faz-se ou não se faz?
E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...
O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar «absolutamente». Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministros era esta - «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar...
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.»
Pág. 169  

«Tenho tido saudades das nossas belas discussões em Sintra!- disse ele, dando ao Ega a palmada carinhosa nas costas que outrora pertencia ao Maia. - Tivemo-las de primeira ordem!
Eram realmente «pegas tremendas» no pátio do Vítor sobre literatura, sobre religião, sobre moral...
(...)
O conde sorriu.
(...)
- Em todo o caso, tivemo-las brilhantes! - concluiu ele, olhando o relógio. - E, eu confesso, uma discussão elevada sobre religião, sobre metafísica, encanta-me... Se a política me deixasse vagares, dedicava-me à filosofia... Nasci para isso, para aprofundar problemas.»
Pág. 553

 
«Mas Ega entendia que o Sr. Afonso da Maia devia descer à arena, lançar também a palavra do seu saber e da sua experiência. Então o velho riu. O quê! Compor prosa, ele, que hesitava para traçar uma carta ao feitor? De resto, o que teria a dizer ao seu país, como fruto da sua experiência, reduzia-se pobremente a três conselhos, em três frases - aos políticos: «menos liberalismo e mais carácter»; aos homens de letras: «menos eloquência e mais ideia»; aos cidadãos em geral: «menos progresso e mais moral».
Pág. 574

 
E como Carlos lembrava a política, ocupação dos inúteis, Ega trovejou. A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como um filoxera! Os políticos hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos cordéis.»
Pág. 700

terça-feira, 1 de maio de 2012

NO CAFÉ

A: O ótimo é inimigo do bom.
B: E não terá razões para isso?