Na sequência da mensagem anterior, recordei-me de uma edição da revista Vértice, dedicada a Carlos de Oliveira, em 1982, ano do 40.º aniversário da revista e da publicação do primeiro livro do autor.
Comprei a revista em fevereiro de 1983, na livraria Académica, em Abrantes.
A revista, publicada no ano seguinte ao da morte do autor, continha evocações e testemunhos (entre outros, de Fernando Namora, Cardoso Pires e Urbano Tavares Rodrigues), estudos e ensaios (entre outros, de Alexandre Pinheiro Torres, José Manuel Mendes, Teresa Coelho Lopes e Vital Moreira), inéditos do autor e uma biobibliografia.
Tinha também uma homenagem poética com poemas de diversos poetas, de onde destaco os escritos por Mário Dionísio e José Gomes Ferreira:
(1 de Julho de 1981: morte do Carlos de Oliveira)
POEMA DE MÁRIO DIONÍSIO
(1 de Julho de 1981: morte do Carlos de Oliveira)
É hoje o primeiro dia
em que há mundo sem ti
Esforço-me por entender o sem sentido disto
Mas não se pensa o que se chora
Espanto-me sim de esta cidade para mim vazia
ser para os outros como sempre a vi
Que pode haver agora?
Que enganosa miragem?
Tu não foste fazer uma viagem
Tua ausência não é um intervalo
Vai-se indo pouco a pouco o porque existo
E nunca mais também sem ti
saberei sequer reinventá-lo (*)
MÁRIO DIONÍSIO
(*) Incluído no livro Terceira Idade (poema LXXIII)
POEMA DE JOSÉ GOMES FERREIRA
LÁPIDE
para Carlos de Oliveira
Havia na tua Voz a suspeita
de um sonho que se deita
no sono da realidade
- para tornar a verdade
mais inverídica perfeita.
Não foste como os outros, Poeta,
um simples buscador de beleza,
mas alguém que o sol completa
com o rigor da sombra acesa.
Julho 1981
JOSÉ GOMES FERREIRA
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