quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

YOUR WORLD IS NOTHING MORE THAN ALL THE TINY THINGS YOU´VE LEFT BEHIND

Gran Torino: o meu filme de 2009; o melhor filme que vi nos últimos anos.

Voltarei a ele.

Por agora, a canção-tema do filme (da autoria de Clint Eastwood, Jamie Cullum, Kyle Eastwood e Michael Stevens), interpretada por Jamie Cullum.













Realign all the stars above my head

Warning signs travel far

I drink instead on my own oh! how I´ve known

The battle scars and worn out beds


Gentle now a tender breeze blows

Whispers through a Gran Torino

Whistling another tired song

Engines humm and bitter dreams grow

Heart locked in a Gran Torino

It beats a lonely rhythm all night long


These streets are old they shine

With the things I´ve known

And breaks through the trees

Their sparkling

Your world is nothing more than all the tiny things you´ve left behind


So tenderly your story is

Nothing more than what you see

Or what you´ve done or will become

Standing strong do you belong

In your skin; just wondering


Gentle now a tender breeze blows

Whispers through the Gran Torino

Whistling another tired song

Engines humm and bitter dreams grow

A heart locked in a Gran Torino

It beats a lonely rhythm all night long


May I be so bold and stay

I need someone to hold

That shudders my skin

Their sparkling

Your world is nothing more than all the tiny things you´ve left behind


So realign all the stars above my head

Warning signs travel far

I drink instead om my own oh! how I´ve known

The battle scars and worn out beds


Gentle now a tender breeze blows

Whispers through the Gran Torino

Whistling another tired song

Engines humm and better dreams grow

Heart locked in a Gran Torino

It beats a lonely rhythm all night long

It beats a lonely rhythm all night long

It beats a lonely rhythm all night long

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

AUGUSTO ABELAIRA (1926-2003)

Retrato de Augusto Abelaira por João Abel Manta para a sua primeira crónica no JL


A crónica de Augusto Abelaira no nº 1 do Jornal de Letras Artes e Ideias, de 3 de Março de 1981.


AO PÉ DAS LETRAS


O papel branco, afinal um tudo-nada pardacento

Ao pé da letra? Ao pé das letras? Pego na caneta, olho para o papel branco, afinal um tudo-nada pardacento... O objectivo mais ou menos vago é falar de literatura. Mas, depois de três anos de uma actividade jornalística semanal em que o prato de resistência foi quase sempre a política, os músculos da minha mão perderam o hábito da literatura. E, no entanto, nesse Fevereiro de 1978 que já vai distante, a minha intenção era não a política, talvez também não rigorosamente a literatura, mas um pouco de tudo: num jornal atento fundamentalmente à actualidade eu falaria de passarinhos, de flores, da Lua, de Fellini, de Wagner, de Cesário Verde. E um pouco, porque não?, de sociologia caseira. Por exemplo: a possível influência do cinema mais ou menos pornográfico na cama dos casais portugueses. Etc.

Mas há um certo mimetismo na escrita, como resistir ao ambiente? Em Roma é difícil ser florentino. O Jornal, onde eu escrevia, era essencialmente político, Lisboa também, o PS metia o socialismo na gaveta, Mota Pinto punha-o no caixote do lixo. Como resistir? E lá embarquei eu nas guerras dos partidos e perdi ou ganhei o meu tempo a fazer a análise estilítica dos discursos dos nossos estadistas. Até porque para falar de política basta ler os títulos dos jornais, mas para falar de passarinhos, de flores, da Lua, é preciso ter olhos na cara, tarefa bem mais difícil.

E outra coisa talvez: para um escritor de tradição francesa, intervir na política impõe-se inevitavelmente. O velho mito de que os intelectuais têm uma missão social a cumprir, são os modernos sacerdotes, o velho mito de que exercem influência , o velho mito de que a sociedade está à espera do que eles dizem. Ingenuidade. O escritor vai atrás das palavras sonantes, sacrifica o rigor a um bom dito de espírito, esquece as ideias, não se pode confiar nele.

E então, insensivelmente, um pouco sem querer, lancei ao papel as minhas conversas políticas de café. Por outras palavras: cheguei à conclusão de que as conversas de café poderiam ser investidas no papel de uma forma mais rendosa, a tantos escudos por página. O comércio, em suma. A civilização capitalista. A POLÍTICA.

Somente: escrever sobre política cria hábitos nos músculos da mão, hábitos tão difíceis de combater que custosamente poderei libertar-me deles, como se demonstra pelo retrato presente.

E não sei. Os nomes que da minha caneta desejam sair não são os de Tolstoi ou de Mozart, mas Balsemão, Soares e Cunhal - respeito as hierarquias, como se vê. E então: como bloquear esses hábitos? Como ensinar de novo aos músculos da mão, à própria caneta, que nem só de Balsemão, de Soares ou de Cunhal vive o homem, mas também de Tolstoi e de Mozart? Também das flores e dos passarinhos?

De modo que, deixem-me ensaiar: «Tolstoi, o autor de Guerra e Paz, nascido em mil oitocentos e tal...» Ou: «Mozart, que nasceu em Salzburgo e compôs a Música Maçónica e a Flauta Mágica...»

Não é fácil, distraio-me e continuo: «...se tivessem vivido o suficiente para votar nas últimas eleições...» O cronista político que continua em mim prossegue: teriam votado em...» Hesito, lembro-me do bispo do Funchal que nos proibiu (sem grande êxito, aliás) de votar em candidatos apoiados por maçónicos. Sim, em quem votaria Mozart, que era maçónico? Preciso de o saber para não votar como ele. Quanto ao Tolstoi, nunca esquecerei a infeliz experiência maçónica de Pedro, é pois possível que ele seguisse o conselho do bispo do Funchal. Mas também me lembro do seu enternecimento pelo Platão Karateiev, custa-me a crer que seguisse o conselho do citado bispo.

Bem, começo a educar os músculos da mão, começo a extrair da caneta certos nomes já quase esquecidos. Recomeço, pois, sem quaisquer interferências políticas: «Dostoievski, cujo centenário este ano se comemora...» Mas poder-se-á falar de Dostoievski sem falar de política?

Olho apreensivo para o papel branco, afinal um tudo-nada pardacento da minha próxima crónica.