Num país situado num planeta a muitos anos-luz da Terra, em que a inflação se situa em cerca de 20%, o Governo propôs, na mesma semana:
- reduzir o período de trabalho de 5 para 4 dias;
- não diminuir o salário nominal anteriormente recebido pelos trabalhadores - quem ganha 100 continua a ganhar 100;
- compensar os empregadores (pela redução do período de trabalho com manutenção do salário) através da concessão de um subsídio não reembolsável correspondente a 20 % do salário.
O Governo declarou que com estas medidas:
- se satisfaz uma antiga aspiração dos trabalhadores (a redução do período semanal de trabalho);
- aumenta o salário dos trabalhadores em 25 % (uma vez que, se anteriormente os trabalhadores trabalhassem 4 dias receberiam 80, e, agora, trabalhando os referidos 4 dias ganham 100, o que corresponde a um aumento de 25 %);
- melhora a conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal dos trabalhadores;
- os empregadores não são prejudicados porque só pagam o correspondente a 4 dias de trabalho (80 em 100), pagando o Estado os restantes 20 em 100.
Os empregadores concordaram com as medidas porque:
- ainda que o Estado não concedesse qualquer apoio, em termos reais continuariam a pagar o mesmo: os trabalhadores passam a trabalhar menos 20% do período normal de trabalho, mas também passam a receber menos 20 % do salário em termos reais, devido à inflação - com efeito, os 100 que continuariam a pagar equivalem hoje a 80;
- além disso, conseguiram que o Estado conceda o referido apoio de 20 %.
Os trabalhadores também concordaram porque, continuando a receber o mesmo, passam a trabalhar menos.
Assim se obteve mais um acordo de concertação social.
PS: sem desprimor, mas à cautela, alerta-se para que no texto antecedente se utilizou a ironia.
PS: em rigor, não estará correto dizer que utilizei a ironia. De facto, não pretendo ser interpretado de forma contrária daquela que derivaria da interpretação literal do que escrevi. Eu retratei fielmente a realidade. A realidade é que é diferente do que deveria ser.
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